domingo, 15 de outubro de 2017

Ao pior professor que eu já tive

                Hoje, 15 de outubro, resolvi fazer diferente. A minha última homenagem ao dia dos professores foi à professora que me alfabetizou; também já homenageei o professor que se tornou um amigo pessoal e a amizade perdura 16 anos. Hoje, entretanto, a mensagem vai ao pior professor que já tive. Não vou chamar de homenagem, mas vamos dizer que isso é uma carta aberta a ele.

Prezado pior professor que já tive


                Hoje, com uma pequena ponta de ironia nessa voz que está silenciosa pois escreve, te agradeço. Não, eu não sou nem um pouco grata às vezes que procurei a reitoria pedindo socorro porque seu poder hierárquico sobre mim me impedia de me defender do seu assédio moral em sala de aula porque seu desprezo por mim poderia me tirar minha bolsa.

                Não sou igualmente grata às aulas idênticas que tive nas diversas disciplinas que fui obrigada a estudar com você. Tampouco sou grata ao seu desinteresse em nosso aprendizado, seu sarcasmo barato, suas exigências descabidas, suas “piadas” constrangedoras e sua mania de humilhar publicamente os alunos de menor rendimento.

                O motivo que me leva a escrever para você no dia em que eu deveria homenagear os meus excelentes professores nessa jornada que inclui, além de 11 anos de escola, 3 graduações, 1 pós e uma imensidão de cursos, é que a nossa péssima relação deixou ainda mais evidente e gritante a qualidade daqueles que efetivamente abraçam a docência como uma formação de profissionais e cidadão, e não como sua câmara particular de tortura psicológica.

                A cada pequena humilhação que passei sob seu comando, lembrei de cada palavra de incentivo que recebi dos meus bons professores. A cada piada estúpida, lembrei do humor inteligente de tantos deles que faziam a turma rir sem que ninguém se encolhesse em sua classe desejando sair correndo de lá. A cada trabalho absurdo, sem condições de realização e sem base anterior para tal, lembrei de cada professor que me desafiou e me fez ter um prazer imenso vencendo desafios viáveis e engrandecedores.

                E tudo isso, professor, me fez ser grata não a ti, mas ao fato de que, em 30 anos como estudante – seja de cursos longos ou curtos – você foi o único a merecer essa carta. Isso, na realidade, me facilitou meu trabalho hoje, porque se eu tivesse que relembrar cada coisa boa que vivi ao lado de cada professor maravilhoso que tive, esse texto não ficaria pronto a tempo de postar hoje.

                Então, pior professor que tive, essa carta vai a você, mas a homenagem vai a absolutamente todos os outros que passaram pela minha vida deixando marcas tão opostas às suas.

                E obrigada, pior professor que tive, por me mostrar na prática tudo o que eu não quero ser para meus alunos se algum dia eu realizar o desejo de ser professora. Viu só como nem tudo o que eu vivi contigo foi de todo ruim?

                Mas não, eu não te desejo mal algum. Só desejo de todo coração que você continue sendo o único.


Um comentário: