terça-feira, 27 de outubro de 2015

A Ista

Já me chamaram de comunista

Quando eu sou movida por marca capitalista

Já quis ser anarquista

Sem saber que pra essa lista

Eu não podia ser vista

Já me barraram na pista

Me chamaram de petista

E eu gritei FASCISTA

E eu só queria ser bem quista

Não sirvo pra budista

Já me tacharam até de autista

Porque toda minha conquista

Vem da alma de ativista

E por mais que eu não resista

E precise de analista

Eu sou a protagonista

Dessa minha vida de artista.


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Brilha estrelinha

Brilha brilha rodopia
Com sua saia rendada ela sabia
Que nos palcos da vida, sorriria
Que um dia lembraria
Dos áureos tempos das cortinas erguidas
E que então esqueceria
Dos tempos de escuridão
Quando seu rosto enfim serviria
De inspiração à multidão!
Brilha brilha rodopia
Menina sonhadora que não se deixou abater
Pelos braços imundos do que chamam “poder”
E manteve singela o sorriso no rosto
Estampado naqueles que nada têm a perder
Brilha, estrelinha, brilha
Que a luz que irradia para sempre ilumine
Quem sempre sonhou em ser como você
Que nesses pobres versos sem fama
Sinta um abraço apertado de quem te ama.
Brilha, estrelinha!


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Minha garganta dói

                Dessa vez não foi o choro que fez minha garganta doer, embora me veja com alguns bons motivos pra chorar. Dessa vez foi a luta.

                Resumo da ópera é que sou viciada na feira do livro, o que provavelmente não surpreende ninguém, certo? Há 31 anos frequento a feira do livro da minha cidade em sua praça central (por sinal, essa foi a 31ª edição). Ao longo desses anos a estrutura foi gradativamente melhorando, e melhorando, e melhorando e tava indo muuuuito bem até a prefeitura resolver que tem que levar a feira pra longe do povo.

                Sim, do povo, P-O-V-O, isso inclui aquelas pessoas que muita gente não quer ver. Pois eu adoro. Povão mesmo, de andar no mesmo corredor o empresário e o gari, de cavocar nos promocionais a advogada e a diarista, de trocar dicas de livro a professora e o recém-alfabetizado pelo EJA. Povo. Todo mundo.

                É óbvio que a mistureba incomoda, por sinal os poucos até agora que vi concordarem com a mudança – de ter de fato opinião formada e não de achar que pode dar certo apenas – é gente que ostenta nas redes, tem foto de perfil na frente da Torre Eiffel, anda de carro importado e não mete o narizinho em corredor cheio de pobre.

                Por sinal, é gente que compra pela internet, que nem sabe o que é feira do livro. Tá, eu sei, to generalizando, talvez tenha gente que seja a favor e que passeie por lá e não tenha toda essa aversão à pobre. Mas no mínimo tá cagando pra eles.

                Sim, claro, se você luta pra tirar a feira do lugar que fica exatamente entre as duas centrais de ônibus com linhas pra cidade inteira e colocar num lugar com ZERO circulação de gente (sim, não to exagerando, no dia a dia não circula absolutamente ninguém lá, indo de um ponto a outro), inacessível para a maior parte da cidade e cujos bares cobram por uma Coca-Cola mais ou menos 10% da minha renda, é porque você REALMENTE não quer ver pobre comprando livro.

                Bom, os livreiros querem. Eu quero. Eu quero continuar vendo cenas como da senhorinha muito humilde, de roupas velhas, gastas e manchadas, encantada escolhendo livros num balaio a R$ 3,00. Acreditem, eu me emociono com isso, e eu conheço muito bem a região onde querem colocar na IMPOSIÇÃO a nossa feira, e posso garantir pra vocês que essa senhorinha não vai na feira por lá. Primeiro porque ela não se sentirá à vontade em uma região frequentada pela elite, segundo que ela vai precisar de 2 ônibus a R$ 3,50.

                Conheço pouquíssima gente que defende esse disparate, mas vez ou outra algum deles deixa escapar que na praça tem “gente inadequada” (usando as palavras exatas de uma delas). Por gente inadequada, considerem puta, preto imigrante, travesti, pobre. Gente inadequada.

                Puta, preto imigrante, travesti e pobre é tão cidadão quanto eu, você, ou o carinho da Pajero que posou pra foto na abertura e não deu mais as caras. Deixe que venham! Deixe que leiam!

                Ah, sim, pobre lendo é um problema. Vai que ganha senso crítico e começa a ver que não precisa ser capacho pro resto da vida? Que venham os livros ao povo! Foi-se o tempo que se acreditava que livro é pra alguns. NÃO É. Eu sou escritora e me ofende que meu público seja definido pela quantidade de dinheiro na sua conta. NÃO É.

                Eu escrevo pra gente. E é só pra gente porque bicho AINDA não é capaz. Se a gente que tá lendo meu livro é herdeira de 30% das riquezas do mundo ou sustenta a família com um salário mínimo, se a gente que tá lendo meu livro é preta, branca, amarela, albina ou multicolorida, se é hétero, homo, pan ou assexual, se sua identificação é masculina, feminina, ambos, nenhuma ou abóbora, eu realmente não me importo. Você é gente? Então eu escrevo pra você.

                Segregação não combina mais com o século XXI. Como bem disse a musa Elisa Lucinda, no encerramento da feira: os livros devem ir onde o povo está. O POVO. P-O-V-O.

                Feira do livro é sobre gentes e livros. É sobre todos nós. É sobre histórias. Não importa se é puta ou médica, se é juiz ou gari. É gente. Ninguém é mais gente que ninguém.

                Então hoje eu lutei. Gritei mesmo, plenos pulmões, por isso to com a garganta como se tivesse engolido o Saara. A palma da minha mão direita tá roxa – nunca tinha visto mão ficar roxa por bater palma, mas a minha ficou. Gritei e gritaria de novo. Até discurso no microfone eu fiz.

                Ninguém é obrigado a ficar calado. Hoje foi sobre os livros, mas foi também sobre democracia. Foi também sobre não baixar a cabeça. Foi sobre exercer a cidadania.

                Foi sobre mostrar que a gente existe e que a gente importa.

                Não mexam com o povo dos livros. Os livros são excelentes professores de cidadania. 


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Carta à Olga

               Olga, não posso dizer que venci na vida, mas posso garantir que estou a caminho. Publiquei meu livro, estou na segunda graduação, tenho uma pós, tenho um armário cheio de prêmios literários, tenho centenas de contos, crônicas e poesias. Talvez eu já tenha vencido na vida e não tenha notado, saberemos na hora certa.

                Mas acima de tudo, eu sou uma privilegiada. Eu sei ler – e não uma leitura qualquer – e eu sei escrever – e não uma escrita qualquer. Eu não seria hoje uma escritora se não tivesse encontrado você no meu caminho. Olga, minha professora da primeira série.

                Sabe, Olga, depois de você vieram muitos. Não vou dizer que todos me marcaram como você me marcou – sempre tem aqueles que a gente prefere esquecer, né? Mas tive muitos que mereciam uma carta especial também. Te escolhi porque você me alfabetizou. Foi sob seus cuidados que nasceu a primeira frase da minha própria mão, foi a partir de você que não dependi de mais ninguém pra contar histórias.

                Você, Olga, acaba por representar todos os outros professores que vieram depois. Cada um do seu jeito, cada um com sua contribuição para eu ser o que sou hoje. Mas você começou tudo isso. Por sua causa aprendi a ler muito além de apenas juntar letras, mas compreender a mensagem, e essa compreensão me abriu um mundo de possibilidades.

                Essa carta é uma homenagem a você e tudo o que você, professora, representa na minha vida. Lembrarei seu nome até o último dos meus dias porque não haveria Maya Falks sem Olga.
                Obrigada de coração por dedicar sua vida a aturar uma sala de aula cheia de crianças loucas pra brincar no pátio e, pacientemente, nos ensinar a base que nos levou a todos os demais professores e a tudo que somos hoje. Muito obrigada por suportar a desvalorização, o desgaste, o cansaço e as desilusões para nos tornar cidadãos.

                Muito obrigada, Olga, e a todas as outras “Olgas” que me tornaram possível.
                Feliz dia do professor!




segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Sigo criança


                Alguns meses antes dessa foto ser batida, eu pedi ajuda à minha mãe. Eu tinha muitas histórias pra contar e nenhuma condição técnica para tal (leia-se, não sabia nem ler, nem escrever).

                Até esse momento – meses antes dessa foto – minhas histórias eram contadas com bonecas e grunhidos. Não sei explicar como começou, mas em algum momento eu senti que não era o bastante. Deixei um pouco das bonecas de lado e me agarrei em papel e lápis.

                Lembro-me que minha mãe comprava pacotes de papel jornal – uma folha fina e num tom de bege feíssimo – porque folha de desenho era mais cara e eu usava um volume muito alto de papel, e lá produzia histórias e mais histórias. Em quadrinhos, porque eu só conseguia desenhar.

                Quando essa foto foi tirada, eu já havia produzido dezenas de histórias. Eu desenhava razoavelmente bem, e ditava os diálogos para minha mãe. Embora chamasse a atenção o fato de uma criança de 3 anos construir uma história com coerência e coesão, com um certo grau de complexidade, até ali a aposta da família era mesmo nas artes plásticas.

                O motivo era simples: minha madrinha é artista e eu adorava ficar com ela aprendendo sobre aquarela, e os meus desenhos não eram meros rabiscos de uma criança de 3 anos.

                Até a minha alfabetização meu interesse era total nas artes plásticas; meu brinquedo favorito era uma mistura para fazer gesso e umas forminhas de onde tirava pequenas esculturas (que sempre ficavam danificadas por bolhas de ar), depois cuidadosamente pintava uma a uma.

                Mas quando acabavam as pinturas, esculturas e desenhos, era da minha mãe a missão de ouvir atentamente minhas histórias para transcrevê-las nos desenhos. E quando eu estava sozinha, montava cidades inteiras de bonecos em miniaturas na mesa da sala e criava famílias com suas histórias. Minhas cidades tinham políticos corruptos, homens violentos, mulheres empoderadas, escolas e prisões.

                Quando eu cheguei na primeira série, eu me encontrei. Descobri exatamente onde residiam meus sonhos: na escrita. Foi aos 7 anos, 4 anos depois dessa foto, que escrevi meu primeiro romance e disse aos meus pais que queria ser escritora. Mal sabia eu que eu já era.

                Hoje, dia das crianças, acho fascinante pensar que minha brincadeira favorita não se perdeu com a vida adulta, e nem meu sonho infantil. Sigo brincando com as palavras, sigo na trilha do meu sonho literário.

                Sigo criança.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Outra vez...?

A gente sabia que não ia dar
Mãos dadas, vestido branco e um altar
Não fomos feitos para um felizes pra sempre
Então meu bem, pra que tentar?

A gente até que insistiu, afinal, amor é perseverança
Mas depois de tanto tempo socando paredes
A gente até perde a esperança
Hora de romper as correntes

Estamos presos nesse ciclo sem fim
Temos que nos machucar assim?
Dê o primeiro passo, amor
E liberte-se de mim.

Espere! Não vá embora
E se não for no aqui e agora
Quem sabe a gente pode tentar depois
Afinal, ainda é possível haver um “nós dois”!

Ajoelho-me aos teus pés
Insana, talvez, mas sei bem o que é melhor
Te peço que a gente tente outra vez
Porque o que sentimos – é louco – mas é amor

Até porque já tentei te esquecer
Mas ainda não aprendi como
Minha vida dedico a você
Porque, sua peste, eu te amo.



quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Abriria mão

Foram tantas voltas
Tantas vezes que segurei o choro
Tantos abraços que não recebi
Enquanto meu rosto no espelho
Era o perfeito reflexo da dor
É tua ausência que tanto me corrói
É tua indiferença que me tira o chão
As marcas de não estar com você me são evidentes
Como cortes que rasgam a pele
Nossa distância me rasga a alma
Que precises de um abrigo, eu entendo
Que meu abraço seja ele, eu peço
Porque nada nesse mundo é maior
Que minha gigante vontade de te ver feliz
É por isso que hoje me fecho
Que resguardo nas sombras
Para que você possa ver a luz
Sem que eu a ofusque
Abro mão do meu sol
Para não te deixar no escuro
Abriria mão de minha própria vida
Se necessário fosse
Pra te fazer sorrir
Porque tua felicidade é o motivo da minha existência.


segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Tudo o que foi pra você

                Tenho o amor maior que me rala a alma, aperta o peito, altera meus sentidos e me faz preferir perder o ar do que perder você. 

                Percorri tantas estradas, tantas bifurcações, foram necessárias tantas escolhas, mas em nenhuma delas eu abri mão de você. Não abri. Não abriria jamais. Seria capaz de trocar todo meu futuro, meus sonhos e planos por uma noite nos teus braços. Até porque conheceria ali tamanha perfeição, tamanha explosão de amor profundo que nada mais no mundo seria capaz de fazer sentido.

                Cruzamos nossos caminhos como plantas daninhas. Nos fizemos tão mal quanto bem. Nos destruímos aos poucos, e aos poucos, nos reconstruímos também. Tudo em mim mudou de significado quando passamos a ser nós. Mesmo que jamais tenhamos de fato sido um só.

                Você revolucionou cada pedacinho da minha vida. Nada mais é como foi um dia, e eu me tornei não apenas uma pessoa melhor, mas também uma pessoa que descobriu o quão devastadora pode ser a solidão quando estamos para sempre presos em um amor verdadeiro.

                Sim, eu sei, parece contraditório, mas a verdade é que amar é um exercício de solidão e auto-boicote. É impossível sair ileso de um amor. Estou presa nesse amor e isso me traz tanto gozo quanto dor. Não, eu não tenho a menor intenção de me libertar.

                Dedico a ti minhas mais doloridas lágrimas e meus mais sinceros sorrisos. Dedico a ti a descoberta de todas as minhas vulnerabilidades e a nudez de todos os meus sentimentos. Acreditei por toda a vida ser uma garotinha sofrida de amor, constantemente apaixonada, quando eu ainda nem havia descoberto as desventuras de um amor tão verdadeiro quanto impossível.

                Não há amor possível que não o amor próprio, por isso hoje não me entristeço ao pensar que nosso amor é apenas mais uma de minhas ficções alcoviteiras.

                Estou virando especialista em fantasias. De todas elas, você é minha favorita, talvez a que mais me machuque, mas a única que sou incapaz de viver sem. É por isso que te amo mesmo quando te odeio. Te amo mesmo quando tenho vontade de te apagar da minha vida ou quando me vejo chorando por horas por sua culpa. Ou minha.

                E cada vez que te odeio, tenho ainda mais certeza de que meu amor é verdadeiro, intenso, profundo, inesgotável e, por óbvio, eterno. Assim como não tenho mais a ilusão de que existiremos em um universo possível como um casal de capa de revista, também não tenho mais qualquer esperança de te tirar do meu coração.

                Não tenho ilusão mas não apenas porque não consigo simplesmente não te amar, mas porque não quero. Talvez pareça estranho em um desabafo tão dolorido dizer com tanta certeza que não quero deixar de te amar, mas não quero mesmo. Não. Não quero. Nunca.

                Talvez a vida ainda me reserve uma poesia em meu leito de morte, para que eu possa deixar como epitáfio à minha lápide:





“Viveu apaixonada para morrer de amor”.

















sábado, 3 de outubro de 2015

De coração



No meio do caos e da desesperança
Há de ter um caminho, uma forma de chegar
Uma barreira fácil de ultrapassar
No meio de tantas desavenças
Há de existir mais do que crenças
Atitudes capazes de mudar o mundo
Formas de mostrar um amor profundo
Formas de fazer a vida continuar
Contando com o imenso poder que tem os anjos de amar
Que esse amor se espalhe como semente
Que não sejamos vítimas de outra serpente
Porque no fim das contas o que vale é mesmo
É essa força tão bela que temos para continuar
Que sigamos então firmes
Não em busca de abrigo ou redenção
Mas sim maneiras de descongelar o coração
Que nossos sonhos deixem de ser ficção
Porque na realidade é possível viver de emoção
E o que mais seria
Capaz de tal façanha
Que não o dom do abraço, do carinho, da união?
Se hoje te dedico o que há de mais belo em mim
É porque ontem me fizeste sorrir
Não há nada mais puro e genuíno
Do que um sorriso agradecido
Pela bondade que vem
Sem que se cobre o troco
Sem que se espere a retribuição
Porque ela certamente virá

E será de coração

Para Ariane Cordeiro
Para Alcione Duarte
Para Luis DiVasca