sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

DOIS MIL E JÁ VAI TARDE

                Eu ia fazer um vídeo, como fiz ano passado, mas esse final de ano foi muito mais corrido do que eu previa e minhas olheiras já chegaram nos ombros. Vai textão mesmo.

                2016 foi um ano peculiar. Vejo pelas minhas redes sociais que ele não foi muito bem quisto pela maioria, embora eu conheça gente que realmente teve muito a comemorar. Bom, o ano ser bom ou ruim é muito relativo, mas, em termos gerais, o meu foi realmente uma bosta.

                Não vou entrar em grandes detalhes porque tem coisas privadas que devem permanecer privadas, mas devo dizer que o início do ano – precisamente entre fevereiro e março – foi o prefácio de um ano que me faria chorar muito. E eu chorei de fato.

                2016 foi o ano que eu cheguei (de novo) no fundo do poço financeiro – mas, ao contrário da primeira vez (no final de 2014), dessa vez eu tinha uma urgência que girava em torno dos 3 mil reais – meu instrumento de trabalho.

                Foi uma maratona de vaquinhas, acusações de golpe, exposições e bloqueios de gente que eu admirava, bem como freelas furados e muita expectativa não concretizada. Enquanto tive as vaquinhas abertas, lia diariamente indiretas sobre golpistas no facebook, curtia a maioria porque eu não imaginava que podiam ser pra mim, afinal, eu não sou golpista, fui de total transparência com cada pessoa que doou pras minhas vaquinhas. Numa dessas, uma pessoa que eu gostava muito me denunciou e, sem nenhum direito de resposta, me bloqueou.

                Claro que tenho coisas bem mais relevantes pra lembrar, relembro a paladina da moral e da justiça que me acusou injustamente e me privou de qualquer direito de resposta porque é algo que eu quero que realmente fiquei com 2016; não quero levar essa frustração para o ano que vou dar um passo além na minha carreira literária. 2017 não a merece, e eu também não. Vade retro.

                2016 foi o ano do golpe. Um golpe coletivo, completo. Um golpe global. 2016 foi o ano que eu fugi do direito porque a constituição e o papel higiênico passaram a ter a mesma utilidade. Foi o ano que sofri uma pressão absurda pra me tornar massa de manobra e cuja minha recusa me custou muito caro. Foi o ano que fui acusada de golpista, de vagabunda, de mamadora nas tetas do governo. Que minha página – na época com pouco mais de 2 mil curtidores – foi atacada por eu simplesmente ser artista.

                Não foi um ano para amadores. Foi um ano que tomei café com o capeta por 5 semanas e recebi pelo correio uma colônia de fungos de uma amiga numa tentativa de interromper um ciclo de 3 meses doente (esses fungos aumentam a imunidade). Ciclo que me acompanhará até março de 2017 quando terminarei de pagar o antibiótico.

                Mas também foi o ano em que nasceu Histórias de Minha Morte, cuja publicação só se tornou possível porque, apesar das acusações de golpe, os doadores da minha primeira vaquinha contribuíram para a contratação de um produtor cultural. Foi o ano que a Editora Alicanto entrou na minha vida e resgatou o Depois de Tudo – até então condenado à morte. Também foi o ano que surgiu a Macabéa, já quase nos 45 do segundo tempo – e essa é uma novidade que contarei melhor depois.

                Nesse ano aparentemente meio macabro, com tantas perdas e tragédias que nos levaram às lágrimas, também conheci muita gente que fez um esforço colossal pra não me deixar cair. Fui exposta algumas vezes e contei sempre com um exército de bem feitores movendo mundos pra me ajudar.

                Ganhei cicatrizes sim, mas ganhei amigos que eu não esperava. Tive sim minha dose de frustração, fui enganada e ludibriada por cliente de freela, mas no saldo final – apesar de tudo – ainda consegui comprar o meu instrumento de trabalho e garantir mais uns anos de literatura pela frente.

                2016 foi o ano que criei o Personal Versus e descobri que existe sim espaço para a poesia no mundo. Personal Versus não foi apenas uma ideia inédita e – modéstia a parte – brilhante; foi meu resgate, minha quebra de paradigmas, foi o que me fez parar de questionar minha literatura depois de um ano de muitas derrotas – algumas bem dolorosas. Aliás, não foi, é, porque em 2017 vou fortalecer ainda mais o serviço porque toda hora é hora de poesia.

                Num saldo geral, foram 5 semanas no inferno, 3 meses doente, 70 dias sob tortura psicológica, mais de 15 derrotas em concursos e um semestre inteiro frequentando um curso que eu não queria mais de jeito nenhum. Apesar disso tudo, eu termino 2016 trabalhando loucamente para os projetos literários que se concretizarão em 2017 e com uma perspectiva que eu não tinha mais há anos (sim, tem mais novidade que eu ainda não contei).

                Mas principalmente, depois de um ano tão doloroso e difícil de enfrentar, cheguei em seus últimos dias mais madura do que nunca. Descobri uma beleza que eu desconhecia em mim, entendi meu caminho literário, encontrei as janelas que se abrem quando as portas se fecham, me desprendi de gente que não presta e conheci centenas de pessoas que vieram pra ficar.

                Quer saber? Talvez 2016 não tenha sido, em geral, um ano tãããããão ruim assim. Talvez ele tenha me ensinado na marra a enxergar o copo meio cheio porque eu precisei me prender nas pequenas vitórias depois das grandes derrotas. Meu psicólogo que me disse, na nossa última sessão de 2016: parabéns por não apenas sobreviver a esse ano, mas conseguir algumas boas vitórias nele.

                É isso, eu venci 2016. Ele me derrubou mais de uma vez, mas eu o venci. A vantagem de chegar ao fundo do poço é que, lá de baixo, a gente só tem a opção de olhar pra cima.

                Que todos vocês, queridos leitores, tenham também conquistas e crescimentos a lembrar e guardar desse ano tão difícil. Precisaremos estar fortes para o ano que chega agora, e eu espero que a gente se encontre por lá.
                FELIZ ANO NOVO!