quarta-feira, 29 de julho de 2015

33

Nunca tive medo de envelhecer.

Talvez pareça estranho dizer isso em uma época que 33 anos não é mais considerado “estar velha”. De fato, não é. Chego aos 33 anos um tanto incrédula que eu, que há tão pouco tempo era só uma garotinha, já passei dos 30. Mas passei.

Talvez o choque maior seja perceber que não cheguei aos 33 anos com a pompa adulta que imaginava quando era criança. Aquela maturidade quase heroica de quem já sabe de tudo e usa o resto da vida apenas para usufruir do conhecimento e das conquistas materiais.

Não, o meu mundo pós 30 é tão diferente disso que não raro me vejo achando que tem algo errado na minha data de nascimento; devia ser pelo menos uma década para frente.

Não sei de tudo. Não sei quase nada, aliás. Aquela máxima dos grandes filósofos e os velhos clichês de quanto mais a gente aprende, mais a gente sabe que tem muito mais o que aprender é a pura verdade. Cada novo livro que leio, cada nova pessoa com quem converso, percebo que se abre todo um novo e desconhecido universo diante dos meus olhos. Isso é mágico, eu não imaginei que seria assim.

Não me frustra perceber que não sou a mulher madura, sabichona e bem sucedida que imaginei que seria aos 33. Me alegra que pela nossa atual expectativa de vida, 33 é super pouco. Não tenho a ilusão de que chegarei no fim da vida – caso eu venha a partir de velhice – sabendo tudo o que quero saber, mas talvez a graça da vida é exatamente isso – perseguir o conhecimento; quando se adquire um novo, se descobre uma possibilidade nova antes desconhecida, e assim sucessivamente.

Também não me importo que eu não seja aquela mulher centrada que fantasiei. Sei falar sério, as vezes até mais do que gostaria, mas sei brincar, sei resgatar as coisas boas da infância e soltar gargalhadas gostosas, e fazer os outros rirem. Isso também faz a vida mais leve.

Talvez a única coisa que me incomoda um pouco é o ser “bem sucedida”. Não rolou. Cheguei num ápice profissional anos atrás, mas a coisa se perdeu. Estou recomeçando, basicamente do zero. Não que isso seja ruim ou trágico – eu poderia não ter a chance do recomeço – mas me ver sendo obrigada a me reinventar justamente na fase que acreditei de coração que colheria frutos dos esforços da juventude foi um desafio e tanto.

Porém, não ouso reclamar, tudo isso me deu sim mais experiência e maturidade que hoje converto em literatura.

Chego aos 33 anos com a certeza de que hoje sou melhor do que aos 23, mas que estou apenas num pedaço do caminho para ser a Maya que serei aos 63.


E que venha o próximo degrau dessa escada.


sexta-feira, 17 de julho de 2015

Eu sou um

Talvez durante muito tempo eu tenha realmente acreditado que até o melhor de mim era tão somente uma parte de você. Que engano infantil, esse meu, não?

Minha incompletude foi minha vontade de ser parte de dois, sentimento que não me deixou me ver completa, que não me permitiu entender que antes de ser parte de dois, eu sou um.

Eu sou um. Não um qualquer, eu sou completa. Estou completa. Sempre fui completa. Mas essa coisinha boba de acreditar em contos de fadas me fez acreditar que sou parte, e que sem você fico pela metade. Não fico. Talvez fique apenas... livre.

Não me servem mais contos de fadas em que só sou eu se for parte de nós.

Não me servem mais historinhas de amor que não sejam amor próprio, porque antes de amar você, espero amor de mim mesma.

Antes de ser parte de nós, eu ainda pertenço a mim.


quinta-feira, 2 de julho de 2015

Versos pobres

E se esse garoto
Que pede esmola na janela
Não fosse visto apenas
Como um moleque de favela

E se aquela garotinha
De sorriso tímido e vestido de bolinha
Pudesse crescer mulher forte
Com o corpo intacto, sem precisar contar com a sorte

E se essa gente esquecida
Subitamente se tornasse cidadã
Será que precisaríamos algemas
Pra salvar o amanhã?

Esse moleque faminto
Que hoje você não quer ver
Podia ser um engenheiro, advogado
Vai ser o cara que vai assaltar você

Enquanto tapamos os olhos
Eles crescem sem estrutura
Depois que viram o monstro que fabricamos
Bastar apelar pra clausura
Nem todo pobre é bandido
Nisso você tem razão
Mas se veja pobre e faminto
Você não roubaria o pão?

Nem todo bandido é pobre
Eu diria que esses sequer são exceção
Mas esses são protegidos
Quantos ricos tem na prisão?

A lei não é igual para todos
Para o rico funciona o perdão
Para o pobre, só resta uma alternativa
A chamada “lei do talião”

Já nem bradamos por justiça
Segurança não é objetivo
O que importa é que sofram
Mentalidade de povo primitivo

Se você busca justiça
Encontrará em mim apoio
O problema é a preguiça
De pensar em todo o povo

O ideal é uma sociedade próspera e rica
Mas isolamos o diferente
Tiramos deles chances e dignidade
Nem os tratamos como gente

Então presta atenção
Fica aqui a minha dica
Porque o bandido que hoje assusta
É a gente que fabrica

Se teu grito hoje é – Redução!
Eu aproveito a sua rima
E sugiro outra ideia

E essa ideia é EDUCAÇÃO.

Foto: Luciano Andrade