sábado, 17 de setembro de 2016

E se eu não conseguir dizer o quanto te amo?

                Aos silêncios das madrugadas insones dedico meu grito de amor no escuro que cerca meu corpo e minha alma, porque é na força do meu pensamento que te digo que te amo sem nem mexer meus lábios.

                Sei que sabes disso tudo, é inútil repetir já que nada vai mudar apenas pela força do pulsar do meu coração, mas te amar é praticamente o meu combustível para levantar de manhã, afinal, mais um dia em que compartilho do mesmo planeta que você e isso já me basta.

                Mas se eu não conseguir dizer o quanto eu te amo, então te dedico o nascer do sol. Se ainda não for o bastante, te dedico o ar puro, a água cristalina, o suave ruído de uma onda tímida sobre a rocha do píer. E quando meu corpo te chama, te dedico furacão, e quando meu desejo inflama, te dedico vulcão.

                E se eu silenciar antes que meus lábios se movam, escute o pulsar do meu coração. Cada batida é uma nova declaração de amor por ti.

                Talvez eu jamais consiga dizer o quanto te amo mesmo que eu tanto tente, porque esse amor não foi feito pra caber em palavras, mas para ser sentido na alma.

                Ventania, vendaval, meu amor por ti é maior que temporal.


segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Morrer de amor

E se fosse para eu morrer de amor, me jogaria em teus braços e de lá não mais sairia. E se fosse para conter a dor, mais ninguém eu amaria. Mas e se morrer de amor é a vida que finda, que amor seria esse a me arrancar meus dias ainda vindouros?

Amores reais não deixam marcas, deixam carícias no coração, porque marcas são cicatrizes, e cicatrizes são feridas outrora abertas.

Não há amor capaz de ferir de tal forma. Se feriu, não era amor.

Um amor que se perde nas dores não merece o nome que tem.


domingo, 4 de setembro de 2016

Mais uma chance

Conto premiado, 1º lugar Concurso Anual Literário da Prefeitura de Caxias do Sul - 2015

            Talvez isso seja apenas mais um adeus entre tantos que já esbocei em páginas tão alvas e solitárias quanto essa. Talvez dessa vez seja possível que o suspiro finalize a dor. Talvez enfim seja eu capaz de respirar a plenos pulmões pela última vez.
            Dedos me apontarão, dirão que sou covarde, dirão que não tive amor por quem me amou. Não sabem de nada. Não sentem o frio da minha pele, não sentem o calor das gotas de sangue que escorrem entre meus pelos cada vez que fica insuportável demais para segurar dentro de um só coração. Não sabem o quanto dói minha garganta enquanto tento engolir as tantas vezes que já me julgaram em vão.
            Dirão que sou ingrata sem saber o quanto lutei para chegar até aqui. Dirão que optei pelo mais fácil enquanto minha cabeça passou toda minha vida me dizendo pra partir e eu finquei o pé dizendo que não. Me chamarão de fracassada mas jamais saberão como é calçar os meus sapatos.
            Dirão que falhei. Falhei. Falhei ao lutar com tanto afinco para não me deixar cair sobre o colo de um anjo nas tantas vezes que clamei por piedade, por clemência à rocha que me invadia por dentro. Dirão que foi frescura e eu não lhes direi mais nada porque minha voz terá sido enfim calada pelo desejo irresistível de não-ser.
            Então muitos não entenderão. Não espero que entendam. Se não entenderam até hoje, não será agora que já não tenho mais eu para explicar, e explicar, e explicar. Mas talvez se apiedem, a coitada covarde, a infeliz, aquela que nunca soube ver o valor das pequenas coisas quando na verdade foram eles que jamais ficaram parados feito loucos em uma esquina para ver um passarinho cantar.
            As palavras ferem como navalhas. Os pequenos gestos que passam despercebidos vão arrancando pouco a pouco tudo o que me restou de força para ainda ser. Como quando observava uma pequena flor em um canteiro de concreto e aquele alguém que jamais vi o rosto escolheu exatamente aquele pedacinho de terra para cravar o pé abotinado. Vi a pequena e indefesa flor se despedaçar junto com o que me restava de sanidade.
            Sanidade essa que tanto lutei, mas não sou como os outros. Não nasci para ser, nasci para lutar segundo a segundo e sucumbi à guerra. E nenhum de vocês dirá que fui guerreira. No meu epitáfio sobrarão rancores. Não me perdoarão, mas não busco seu perdão, busco minha paz.
            Serei julgada, condenada, odiada. Meu nome se ligará à dor daqueles que deixei. Que não pensem que me faltou amor; pelo contrário, dei e recebi tudo o que pude nessa longa e cansativa jornada. Mas até o mais nobre guerreiro é finito, eu não haveria de ser diferente. Não é porque escolhi o dia de voltar pra casa que me torno menos digna da batalha que lutei.
            Perdi, e nada disso me impede de erguer a cabeça e sair triunfante. Que me julguem, que me difamem, que virem as costas à minha lápide, ainda estarei triunfante pelas tantas vezes que venci a morte nas tantas vezes que meu coração me pediu pra parar. Nenhuma delas eu desisti. Fui uma sobrevivente.
            Mas há de convir que caminhar por cacos de vidros sob pés descalços requer equilíbrio, força, foco, e eu não estou disposta a oferecer nem mais um pedacinho de mim pra essa jornada. Findaram os motivos. Findaram as forças. E pelas minhas mãos agora só permito esboçar um adeus.
            Eu fiz tudo o que pude. Fui além. Me reinventei. Me reconstruí. Hoje guardo as peças para brincar em outro quintal. Essa velha e surrada carcaça não atende mais meus sonhos, minha emoções e minhas dores.
            Sim, fiz tudo o que pude. Juro que lutei feito louca – ou justamente por sê-lo. Juro que testei todas as armas antes da rendição. Se me permiti alcançar meus cabelos brancos, não foi por outro motivo que não pelo tanto que tentei. Se desisti não foi por outro motivo que não a exaustão. Cada passo controlado, sempre segurando com força uma corda da vida que por sua vez me esfolou as mãos.
            Não me julgue, não sabes como é. Talvez se sentisse no peito o rajar das pedras, não tivesse chegado tão longe quanto eu cheguei. E quando eu fechar meus olhos, por favor, se fora pra pensar em mim com desprezo, prefiro que me esqueça.
            Mas se não quiser me esquecer, não lembre de mim com lágrimas nos olhos se não forem de emoção. Lembre que sorri. Lembre que ri, que gritei de alegria. Lembre das tantas vezes que contei boas piadas. Tente se lembrar das vezes em que fomos felizes, e não daquelas que você achou que fosse me perder. Não lembre dos abraços para acalmar minha dor, mas nos abraços puramente de amor. Não lembre do meu olhar dolorido, lembre-se de tantas vezes que meus olhos traduziram felicidade. Esses momentos existiram e eu sei que podem me representar quando eu mesma já não o puder fazer.
            Se nada disso for possível, que apague minha existência de sua memória e do seu coração. Deixe que tudo o que eu fui vire pó com o corpo que usei ao longo dessa caminhada do nada ao lugar nenhum.
            Não! Por favor, não me despreze. Não lutei tanto para perder seu amor quando mais preciso que me entendas. Tente compreender as facetas dessa dor intensa que me invade. Tente respeitar meu luto de mim mesma, não me deixe partir pensando que te feri. Por favor, não me deixe ir sem que saiba que nada disso é culpa sua. Nem minha.
            Não é culpa sua se meu coração arde. Não é culpa minha se minha alma não consegue mais se manter trancada nesse corpo. Não é culpa nossa se o sol parece não brilhar mais pra mim. Se os sorrisos não mais me alegram. Se palavras bonitas não são mais absorvidas pelos meus ouvidos. Se meus dias tornaram-se cinzas. Pense que triste quando a vida perde a cor.
            Talvez se eu conseguisse voltar a sentir as coisas com mais leveza... se eu ainda fosse capaz de observar as crianças nos parques e lembrar do quanto era boa essa inocência. Talvez se eu tentasse olhar para o céu e encontrar coelhos nas nuvens. Ou talvez cheirar uma flor, ouvir o canto de um pássaro, levar meu cachorro para passear... e se eu tentasse ler um bom livro, ouvir uma música que me desse vontade dançar...
            E se eu tentasse... e se eu tentasse pelo menos mais uma vez...
            E depois que eu parar de sangrar na alma, rasgarei essa folha. Amanhã será um novo dia e eu sei que aqui ainda estarei para dar ao meu coração mais uma chance.

            Pelo menos mais uma chance.