Ninguém
leva uma vida de mar de rosas. Alguns têm a sorte de enfrentar poucos
obstáculos que, perto de outros, mais parecem pedrinhas de cascalho. Outros
levam uma vida casca grossa, coisa séria, uma vida que não é pra amador.
Em
muitos – na maioria – sentidos, eu me encaixo no grupo da vida fácil; educação
de qualidade, família estruturada, um teto, comida, roupa, enfim, quem olha de
fora poderia até dizer que eu não tenho mesmo do que reclamar.
Ok, do
que reclamar eu posso não ter, mas tenho muito, mas MUITO, a lutar. Engana-se
radicalmente quem pensa que ter tido alguns privilégios – os quais reconheço e
sou grata – tornou minha vida fácil, até porque nesse post não tenho por
objetivo falar de bens materiais – que eu também não to lá grande coisa vivendo
de bolsa estágio.
A
grande questão é que tem coisas que vão muito além da nossa compreensão, como
aqueles que vou chamar de “os fantasmas do meu armário”. Todo mundo tem seus
fantasmas em seus armários, só que uns são mansinhos e outros furiosos.
Os
fantasmas do meu armário atrasaram minha vida em muitos aspectos e me
arrastaram láááááá pra baixo nos últimos dias (semanas). Talvez um dos maiores
desafios que já enfrentei na minha vida foi andar com eles todos agarrados em
mim tentando levar uma vida “normal” – trabalho, faculdade, páginas no
facebook. Mas quem me olhasse ao vivo percebia que os fantasmas do meu armário
estavam lá.
Só que
os fantasmas do meu armário tem um ponto fraco: eles não suportam gente que não
é sozinha. Quando eles me abraçam, a sensação de solidão os fortalece e eles
apertam tão forte que a gente (eu e todo mundo que tem os fantasmas) não
consegue respirar. Mas aí o truque é forçar um cantinho entre eles pra enxergar
ao redor.
É isso
mesmo. Se você enfraquece, fecha os olhos e se encolhe, eles vão se alimentando
de você. Se você tira força sabe-se lá de onde e consegue, mesmo que por alguns
segundos, enxergar a quantidade de gente que tá ao redor lutando contra eles,
você não deixa que eles se alimentem. Desnutridos e com um exército das pessoas
que te amam fazendo tudo o que tem ao seu alcance para te ajudar, eles morrem.
Talvez
não morram de verdade. Talvez eles apenas voltem para o armário, mas voltam
mais fracos, mais vulneráveis. Talvez quando a porta se abrir de novo e eles
tentarem te abraçar outra vez, eles não tenham mais a mesma força, talvez
tenham até medo porque sabem, como você sabe, que você não está sozinha.
Então
apresento a vocês o projeto “Ponto e Vírgula”. Não é ideia minha, é uma ideia
importada e uma boa googleada vai dizer a vocês exatamente o que é o projeto,
mas vou contar (parte) sobre ele na minha vida:
O ponto
e vírgula é o que divide uma frase em duas. São duas ideias, uma antes e uma
depois, sem que no entanto se encerre a frase. A ideia do “ponto e vírgula” na
vida de quem tem fantasmas no armário é justamente a virada de página, é um
marco onde a gente se livra de algo que os fantasmas nos impunham, em que
provamos que somos mais fortes que eles – em geral ações que nos machucam, e
isso ajuda a enfraquecer ainda mais os fantasmas do armário. Eu resolvi que era
minha vez.
Na
frase da minha vida, cheguei ao ponto e vírgula, mas antes disso, fiz questão
de dizer que sobrevivi aos fantasmas e ao tanto que eles me machucaram e me
fizeram eu me machucar. O ponto pra isso, a vírgula para o “a partir de agora,
a coisa vai funcionar da seguinte maneira”.
Quando
atingi meu ponto e vírgula, eu tomei controle sobre meu corpo e minha mente.
Isso não é um juramento de que os fantasmas do armário jamais me atacarão outra
vez, eu não tenho como prever e muito menos mecanismos para impedi-los para
sempre, mas no meu ponto e vírgula, onde eu me declarei sobrevivente, eu decidi
que pra eles me derrubarem de novo, meus amigos... um abraço sombrio não será o
suficiente.
Ainda
sou uma pessoa vulnerável, talvez pela própria criatividade que me marca desde
meu nascimento, talvez pela minha sensibilidade literária, mas na última
segunda-feira aquela vozinha lá de dentro me disse que eu tinha chegado na
quebrada, na troca de ideia, no ponto e vírgula.
E pra
não deixar dúvida, depois de me livrar do que eu permitia me ferir, eu
registrei meu ponto e vírgula na pele. Para sempre tatuado ao alcance dos meus
olhos, para me lembrar que eu sou uma sobrevivente e, mais do que isso, que a
partir de agora a frase da minha vida toma um novo rumo até alcançar o ponto
final.
É nessa
hora que eu preciso deixar algumas coisas pra trás, como as notas de rodapé das
páginas passadas. E por isso eu pergunto – depois do ponto e vírgula, você está
comigo nessa?