De um
lado, o navio fantasma o cerca sem medo, afinal, como combater um inimigo do
qual somos incapazes de enxergar? E nós, de um navio real, completamente à
deriva com motores apagados por falta de combustível, sabemos que estamos
cercados.
Nossos
canais de comunicação foram sabotados por aquele paspalho que fugiu no único
bote salva-vidas, e ainda nos mostrou a língua enquanto se afastava de nós em
direção à costa. Confesso que desejei ardentemente que em seu caminho estivesse
o navio fantasma e ele virasse a sobremesa dos tubarões, mas não, o miserável seguiu
em segurança para comer maçãs fresquinhas em uma ilha qualquer.
Então
sabemos que estamos cercados, as bombas chegam de todo e qualquer lado sem que
tenhamos qualquer chance de nos defender ou sequer se esquivar! E elas chegam
abrindo imensos buracos em nosso casco. Nosso piso, como o chocolate, está aerado. Pulamos entre o que resta daqui e o que resta de lá. Alguns vão caindo
ao fundo do casco onde as hélices os transformam em patê – com o perdão da
imagem.
Não
vemos nada, não vemos de onde as imensas bolas de metal chegam, mas elas estão dispostas a nos transformar em pó.
Quando
nosso navio é virado em retalhos de madeira e metal, o oceano o engole.
Coloco
as mãos para cima – glub glub – sabendo em vão, se algum de nós ainda resta
respirando não está assim melhor que eu. Glub blub – os dedos esticados.
Glub.
O breu.