sexta-feira, 29 de julho de 2016

34 coisas

                Já faz um mês que eu falo a nova idade, mas ok, hoje eu oficialmente chego aos meus 34 anos. Pra celebrar a passagem, listei 34 coisas que fazem parte da minha vida (ou fizeram) e que são um pouco do que eu sou.

1. Batalhão das Letras – do poeta Mário Quintana, meu primeiro livro.
2. Amor Eterno – minha primeira narrativa longa, aos 7 anos, inspirada em Mônica e Cebolinha
3. Publicidade – a profissão que escolhi aos 8 anos
4. Vampiro – a poesia que escrevi na passagem dos 10 pros 11 anos, a primeira, depois de ver “Entrevista com o Vampiro”
5. A Vingança – narrativa longa que escrevi aos 11 anos
6. Erich – personagem criado por volta dos meus 13 anos, anos depois virou um perfil do Orkut e tema de um blog onde postei 33 contos, sendo um premiado (Erich em resumo) e que eventualmente vai virar livro
7. Bullying – ainda dói
8. Confetti – loja de doces, meu primeiro emprego aos 14 anos. Não era um emprego formal, eu gostava da “aventura”, então levava muito na brincadeira
9. Redação – depois que parei de trabalhar na Confetti, complementava a renda vendendo redações na escola
10. Arte & Manha – loja de roupas infantis que trabalhei aos 17. Abandonei o cursinho pré-vestibular pra trabalhar lá, só senti falta das aulas de literatura e história, porque o resto eu faltava mesmo
11. Gonçalves Dias – me apaixonei por ele aos 14 anos, a primeira coisa que fiz quando finalmente tive internet em casa foi baixar todas as poesias que achei. Lembro com clareza a aula de literatura do cursinho em que o professor contou a história da minha poesia favorita
12. Coca-Cola – poderia estar no topo da lista, coloquei aqui porque gosto do número 12 mesmo, porque meu amor pela marca é inquestionável
13. Miocardite – peguei uma gripe violenta em 2006, estava com baixa imunidade por causa de uma queda de pressão que quase me levou a óbito, daí o vírus, fortalecido, se alojou no coração e quase me levou a óbito pela segunda vez no mesmo ano. Foram 15 dias de internação, 2 de UTI, 2 anos de check up bimestral e 3 ou 4 comprimidos por dia durante esses 2 anos pro coração não crescer. Miocardite geralmente é detectada na autópsia. Se o cidadão sobrevive tem 49% de chance de precisar de medicação pro resto da vida e controle intenso, 49% de chance de precisar passar por um transplante e 2% de chance de cura. Eu estou nos 2%, já são 8 anos com o coração perfeitamente saudável, nem marca ficou
14. O mal do século – nome do meu primeiro conto premiado
15. Tiago – meu primeiro “amor”, fiquei apaixonada por ele dos 8 aos 14 anos mais ou menos. Nunca rolou nada entre nós e perdemos o contato desde que ele casou, a mulher dele não gosta muito de mim... sei que ele tem um filho pequeno chamado Artur
16. Rodrigo – meu segundo “amor”, durou bem menos, uns 2 anos só, mas como a gente era colega de escola e eu não sei ser discreta, minha paixonite era de conhecimento público. Nunca rolou nada entre nós, hoje ele tá casado e morando na Austrália com a esposa e os cachorros
17. Reação em Cadeia – até hoje minha banda favorita. Passei 4 anos como groupie, conheci pessoas maravilhosas nesse período. Também vivi um bom baile de carnaval, porque o que caiu de máscaras quando a vida me afastou da turma do fã-blube...
18. Sigla – depois de 2 anos atuando como freelancer, foi um emprego nessa agência que me tirou da casa dos pais e me levou pra uma aventura de 4 anos em Porto Alegre
19. Fernando Abbott – rua onde morei por 3 anos em Porto Alegre
20. Márcio – o carinha do ônibus que me fez descobrir de uma maneira bem desagradável que dizer “vou cozinhar pra ti” significa “vamos transar”. Isso foi em 2010 e eu to chocada até hoje
21. Depois de Tudo – o livro que escrevi em 2007 e publiquei em 2015
22. Isac – meu pijama e minha escova de dentes nunca foram devolvidos
23. Amigos virtuais – vocês me fizeram entender que eu jamais seria sozinha de novo
24. Roger – professor, mestre, guia, orientador e um dos melhores amigos que já tive na vida
25. Sótão – durou 3 anos, me sugou a alma, mas me deu vários dos melhores amigos que tenho até hoje
26. Redes sociais – falem mal, mas eu tirei meu trabalho da gaveta graças a elas, depender exclusivamente de editoras me manteria devidamente escondida do mundo
27. 14 – total de prêmios que já ganhei com literatura. Sim, adoro o fato de não ter mais lugar pra colocar, alguém pode me julgar por isso?
28. Anísio – um presente que a vida me deu, nas melhores horas, nas piores também, ele mudou tudo
29. Direito – onde diabos eu estava com a cabeça? Mas valeu a pena pelas pessoas que conheci
30. Feira do livro – ponto de encontro com meus amigos livreiros, que me conhecem desde criança, e local onde conheci gente que amo muito (né Abner?). Sentirei sua falta esse ano, se tudo de certo, aos 35 te reencontro
31. Jornalismo – aqui vou eu!!
32. Outubro – mês que vou descobrir se meu segundo livro sai ou não
33. Música – combustível

34. Leitores – a razão de tudo isso, a fonte de minha eterna gratidão


quinta-feira, 14 de julho de 2016

Descanse em paz, Depois de Tudo

                Hoje entendi que as vezes é preciso abdicar dos sonhos pra sobreviver.

                Há 9 anos finalizei minha primeira narrativa longa na fase adulta (tenho outras duas desenvolvidas na infância, uma aos 7 – que se perdeu – e uma aos 11). Essa eu sabia que tinha força pra enfrentar um mercado competitivo onde vence quem aparecer mais, e isso nem de longe significa que vence o melhor.

                Não vejo Depois de Tudo como uma obra prima, um clássico que perdurará pelos séculos, não sou nem tão pretensiosa nem tão iludida, mas vejo como uma bela história muito bem construída e amarrada, com um desenvolvimento responsável dos personagens – todos tridimensionais, realistas, todos com seu processo de amadurecimento respeitado, todos trabalhados exaustivamente para não cair no pecado de uma história rasa e sem conexão com a realidade.

                Lutei muito para a publicação desse livro. Hoje digo a quem quiser ouvir que sou grata a todas as portas na cara que tomei até sua publicação, em 2015, porque foram elas que me forçaram a descer do meu pedestal auto-construído e reconhecer que eu ainda não era a escritora que eu desejava ser.

                Nesse ponto inclusive acho extremamente positivo eu ser tão old-fashion e não ter me rendido às plataformas de auto-publicação para atender meramente ao meu ego e meu sonho de publicação – não que essas plataformas não esteja recheadas de gente muito boa ignoradas pelas editoras por mil motivos, mas é inegável que um número gigante de autores ou pretensos autores não passa por todos os conflitos de auto-crítica e amadurecimento literário que eu passei exatamente pela quantidade de “não” que levei. Não há filtros nessas plataformas, o autor publica o que quer e quando quer, é natural que falte a eles inclusive a noção da necessidade do amadurecimento, do suor, da tentativa e erro, afinal, tudo e qualquer coisa que eles escreverem, já partem para a publicação imediata.

                Ter optado por me manter longe dessas plataformas – e que fique claro que essa é uma decisão pessoal minha e em nada julga a vontade e o desejo de quem o faz – me obrigou a crescer como escritora. Isso na minha infantil ilusão de quem um livro bem escrito seria meu passaporte para uma carreira estável, mas ainda assim, lucrei com essa obrigação de aprimorar minha escrita.

                O resultado foi que Depois de Tudo se transformou – de uma obra afobada a uma obra realmente pensada, trabalhada, bem construída. O contraste do livro publicado para o original é imenso e isso me é motivo de grande orgulho. Hoje sei que tenho nas mãos uma obra da qual jamais me envergonharei.

                Num primeiro momento isso pareceu bastar; em outubro de 2014 eu enfim fui aprovada por uma editora. Nada de auto-publicação, nada de “adoramos sua obra e vamos publicá-la, favor, depositar 10 mil em nossa conta até sexta-feira”. Não, era uma aprovação de verdade, um investimento da editora “no meu talento”.

                Sim, foi, mas a história é bem menos bonita do que parece. A editora trabalhou na editoração do livro – que é indiscutivelmente primorosa – e na capa – que é espetacular. E deu.

                Lembro que além da minha negociação com um distribuidor ter fracassado às vésperas do lançamento num período que quase me causou uma úlcera, eu me virei completamente sozinha pra tudo – mesmo que me tivesse sido dito que eu recebia assessoramento e alguma coisa de divulgação, inclusive convite pro lançamento. Não teve, fiz tudo sozinha me virando com layouts, coisa que eu não sei fazer e resultou em mil marcadores de página impressos errados.

                Sem apoio da mídia, para quem divulguei exaustivamente meu lançamento, vivi um dia de lançamento morno, com pouquíssimas presenças, mas intensamente realizada porque muitos dos presentes fizeram um esforço real para estar lá – para que se tenham uma ideia, a Gabi, minha amiga que me maquiou, voltou do doutorado na USP na sexta à noite, virou a noite preparando sua aula, lecionou sábado de manhã e seguiu em uma viagens de algumas horas da sua cidade à minha. Já a Débora, outra amiga querida, se operou naquela semana e saiu do hospital direto pra estrada pra vir de sua cidade à minha. Ou seja, eu estava ciente que, em termos gerais, meu lançamento foi um fiasco monumental, mas esses fatos e outros que marcaram aquele sábado de intensos temporais conseguiram amenizar o derrotismo que tem me batido com muita frequência.

                A partir do lançamento, a noção de “sonho realizado” foi sendo cada vez mais substituído pela realidade de que você encontra nas livrarias livros de todos os níveis – dos magistrais às bombas – mas não encontra o meu. Esses dias li um livro de um autor canadense que comprei nas Americanas, o livro era incrivelmente ruim, mas o autor não apenas conseguiu ser publicado como ainda foi traduzido e exportado! Que bruxaria é essa??

                Meu primeiro choque de realidade com a editora veio ainda antes do lançamento, quando comecei a fazer campanha para as livrarias locais terem meu livro e entendi, sob olhares pesarosos de pessoas que me conhecem – e aos meus sonhos – desde a infância, que o sistema da editora não os permitiria disponibilizar meu livro em suas lojas. Os mais próximos diziam que lamentavam vender tanta porcaria e não poder ter o meu, considerado por todos que leram um livro com excelente potencial de vendas. Mas era isso, não ia rolar, eu teria um livro publicado e não sentiria o gostinho doce de vê-lo exposto nas livrarias.

                O segundo choque foi um combo de pequenas decepções. Na página da editora não saiu NENHUMA linha sobre meu lançamento. Nem o prometido convite foi feito. Nada, nadinha, zero. Quebrei o porquinho e usei tudo o que eu tinha de economias em um lançamento memorável; cada comprador do livro ganhou, além dos marcadores (arrumados), uma garrafinha de Coca-Cola com o título do livro no rótulo e uma tag com a capa em miniatura. Ofereci copinhos de brigadeiro aos presentes, montei a banquinha de vendas e a mesa de autógrafos com uma gérbera em uma garrafa de vidro, ao lado do banner que mandei fazer, e ainda fui ao pequeno palco do local conversar com o público. Tudo como manda o figurino de um lançamento de respeito.

                Com esse conjunto, criei um álbum com mais de 100 fotos e um relato do dia. Mandei para a editora lembrando que frequentemente eu recebia na minha timeline os links para os álbuns dos lançamentos de outros autores. No dia seguinte a editora publicou em seu facebook o álbum de outro autor, com 3 fotos de um grupo de pessoas em uma mesa de bar onde meia dúzia de livros disputava espaço com garrafas e copos de cerveja. O meu relato e meu álbum nunca foi ao ar. Isso foi um exemplo, porque a verdade é que meu livro jamais foi divulgado em lugar nenhum exceto em meus canais, por mim mesma.

                Fui entendendo que todos esses autores que recebem atenção da editora pagam por isso – ou seja, a qualidade do seu livro é irrelevante se você tiver dinheiro – bem como a possibilidade de distribuir pelas livraria, é um serviço recente e caríssimo pelo qual eu não vou pagar. Primeiro porque tenho o direito a 5% do valor de capa, ou seja, vou pagar uma fortuna pra editora distribuir e ela mesma lucrar com isso, segundo porque eu não tenho onde cair morta mesmo.

                O resultado disso é que tenho um livro lindo com uma capa linda que não tem em lugar nenhum e ninguém conhece. Saiu de uma gaveta pra outra só que bonitinho. Somando-se ao fato de que o único canal de venda além da própria editora levar uma média de 3 meses pra entregar – deixando todo mundo puto comigo e vindo no meu inbox dizer que se arrependeu da compra – eu percebi que era hora de começar do zero e buscar uma nova editora pro meu filhote.

                E foi aí que minha autoestima virou pó.

                Quando recomecei os contatos, eu achei que ter em mãos um livro que, apesar de tudo jogar contra ele, tem sido bem aceito no mercado e recebido muito elogio iria facilitar minha vida. Ledo engano. As mesmas editoras que recusaram o original dele porque não tinham garantias de que daria certo agora recusam um livro que deu certo porque não é original.

                Hoje, que recebi uma porta na cara da mesma editora que demonstrou interesse ano passado e pediu pra eu retomar contato esse ano – que acaba meu contrato com a que publicou o livro. Sequer tenho como provar porque morreu meu computador e não tenho mais acesso a esse e-mail, mas esperei um ano com intensa ansiedade para ter meu balde de água fria numa manhã, ironicamente, chuvosa. Mesmo que tivesse o e-mail em mãos, mudaria o que? Não assinamos nada, eles não tem nem nunca tiveram um compromisso comigo, mas eu passei um ano vivendo a ilusão de que tão logo acabasse meu contrato, iniciaria outro que colocaria Depois de Tudo nas livrarias.

                Acabou. 9 anos depois me sinto suficientemente esgotada para enfim admitir que Depois de Tudo não deu certo. Eu não sei como tanto autor medíocre consegue ostentar sua obra nas livrarias inclusive do exterior – como aquele canadense que falei antes – mas o fato é que eu não consegui.

                Depois de Tudo foi um sonho e um pesadelo em um mesmo combo de emoções que virou uma gigante frustração que carregarei pro resto da minha vida. Não vou desistir da literatura até porque não existe Maya/Márcia sem literatura; parar de escrever não é nem nunca foi uma opção, mas eu preciso me desprender de uma vez do Depois de Tudo, por mais que eu o ame e acredite nele, porque cada “não” machuca, e eu já to machucada demais.

                Meu contrato com a editora vai até outubro, ou seja, quem quiser tem aí mais 2 meses e meio. Depois disso, confesso que não faço a menor ideia do que vai acontecer.

                A todos que já compraram o livro, meu MUITO OBRIGADA pelo carinho, pela aposta e pela leitura. A vida segue, meio amputada, mas segue. Deixo pra você a música que me embalou enquanto eu contava a história de Júlia e de Toni.  




domingo, 3 de julho de 2016

Meu puxadinho

                Quero encontrar aquele amor verdadeiro que arrepie os cabelinhos da nuca, que cada palavra tenha todo um outro significado que nenhum dicionário carrega. Quero aquele amor que não se importa com meus palavrões e ri das minhas piadas sem graça, mas principalmente quero aquele amor com um ombro acolhedor para quando eu precisar chorar.

                Não me adianta o amor de like de facebook, não me resolve o amor “você são o par perfeito” quando entre quatro paredes ele me faz eu me sentir minúscula. Não me agrada um amor que me use de muleta mas não me apoie quando eu não aguentar o peso e cair. Ele precisa ser muito mais do que um sorriso de propaganda de creme dental; ele tem que ser o riso que só eu conheço.

                Me interessam os amores que caibam no peito, e não aqueles que, de tão pequenos, escorregam pelos poros. Amores que escapam entre os dedos são como sabonetes que se gastam e gastam e então acabam. Eu preciso do tijolo resistente a furacões.

                Procuro um amor que não me complete, porque eu não nasci pela metade; eu procuro um amor que seja o extra, o plus, o anexo perfeito, o meu puxadinho onde guardo tudo o que tenho de mais precioso. Não me servem amores que se julgam parte de mim, de células meu corpo está cheio, o que eu preciso é de um que saiba que eu sou inteira e nós dois seremos dois, unidos, mas dois, porque cada um precisa do seu espaço.

                Eu quero aquele amor que me reconhece humana, que sabe que terei dias ruins e serei grossa, e que me perdoará por isso como eu o perdoarei se irritado falar mal do meu livro favorito. Mas um amor que jamais me transformará em saco de pancada pra descontar suas frustrações. Eu preciso de um amor que me veja como igual, e não como posse. Um amor que não use ciúme de desculpa pra me aprisionar nem um dia ruim de explicação pra me deixar com medo.

                Procuro um amor que não me proteja dos males, mas que os combata ao meu lado, porque sempre fui guerreira e nada no mundo me transforma na princesa vulnerável na torre do castelo. Um amor que também me permita lutar ao seu lado porque me entende aliada, e não um cálice de cristal.

                Busco um amor que sangre, que chore, que sinta dor. Procuro um amor que ria, que fale bobagem e tenha papo pra virar noites e noites. Procuro um amor que não me rotule, não me regule, não me controle. Procuro um amor que procura um amor, e não um objeto.

                Não sei onde ou sequer se vou te encontrar, mas te espero humano, capaz de sentir, capaz de se colocar no lugar dos outros.

                Capaz de me amar apesar de tudo.