Conheço
o Flávio há uns 8 anos. Ele trabalhou no escritório por um tempo, trabalhava
com registros e vivia indo correndo no cartório. Lembro de achar sexy nos dias
de calor ele chegando suado com a camisa colada no corpo e o cabelo levemente
molhado. Nunca foi fetichista pra essas coisas, mas o achava charmoso com ar de
cansado.
Ficamos
amigos, mil interesses em comum, e saímos juntos algumas vezes quando eu sabia
que minha casa estaria vazia porque o Matias estava de plantão. As saídas eram
sempre em grupo, mas sempre me pareceu que tínhamos alguma ligação.
Depois
que ele saiu do escritório, nos aproximamos mais. Virtualmente no caso, ao vivo
foram pouquíssimos os encontros ao longo de todos esses anos, e ele me deixou
algumas mensagens amistosas quando minha crise com o Matias começou. Ou piorou.
Durante
um tempo tínhamos conversas picantes via internet. Fantasiávamos como
transaríamos furiosamente na mesa da minha cozinha enquanto o Matias estivesse
de plantão. Descrevíamos posições e até os palavrões que falaríamos. Nunca
aconteceu de fato e ambos sabíamos que era apenas uma brincadeira. Logo depois
da conversa (e provavelmente da masturbação de ambos) falávamos de mil assuntos
aleatórios sem nenhum teor sexual.
Naquele
sábado, pouco mais de um mês sem Matias, sem sexo, sem desejo sexual, sem
brinquedos, sem nada, eu finalmente relembrei que sou uma mulher saudável,
independente, moderna, mente aberta e que sempre gostou de sexo. Eu lembrei que
to viva.
Matias
era um canalha mas era realmente bom de cama. Foi meu único homem mas lembro de
ouvir as amigas comentando que seus maridos não se esforçavam o bastante e que
raramente atingiam o orgasmo enquanto eu conhecia a via láctea inteira de tanta
estrela que via durando o orgasmo. Ele SABIA fazer uma mulher gozar. Talvez
fosse exatamente por isso que todas queriam transar com ele e foi provavelmente
esse sexo maravilhoso que me fez ser tão tolerante por tantos anos.
Mas
sexo não é tudo, por isso que em um dado momento nem a promessa de orgasmos até
a morte foi o bastante pra continuar aceitando tudo o que é tipo de humilhação.
Agora, pouco mais de um mês sem ele, é que eu percebi que teria que buscar
outros meios de suprir essa falta.
Lembrei
do Flávio. Tá, admito, parece sacanagem eu nunca ter dado grandes margens para
ele e agora lembrar dele por achar o meio mais fácil de ter sexo. Pensar em
sair, conhecer algum estranho qualquer e etc me pareceu muito cansativo, o
Flávio era uma solução mais fácil e prática. É isso que os homens fazem com as
mulheres o tempo todo, não é? Por que diabos eu não poderia fazer o mesmo?
Liguei
pra ele, havíamos falando há poucos dias e sabia que ele estava solteiro,
disponível.
- Oi
Flávio, Bianca.
- Oi,
Bia, tudo bem com você?
- Sim,
sim. Olha só, vou direto ao ponto. To afim de transar. – O silêncio foi
realmente constrangedor, ele demorou quase um minuto pra reagir.
-
Comigo?
- Se
você topar, sim. Mas assim, isso não é o começo de nada, é só sexo, piupiu na
pepeca, orgasmo, só isso.
-
Saquei. Onde você está?
- Em
casa. Perto da mesa da cozinha. – Ele gargalhou.
- Chego
aí em 10 minutos.
E
chegou. Eu estava descabelada, sem maquiagem, com camisetão de banda de rock
dos anos 80, calcinha enorme e bege, depilação por fazer. A casa tava uma
bagunça. Taquei o foda-se, se isso o fizesse broxar, não valeria mesmo ir até o
fim, eu ainda era (sou) a Bianca das conversas picante.
Ele não
deu a mínima, já entrou me beijando. Não dissemos nem “oi” até ele tirar o
preservativo do bolso, puxar minha calcinha e me penetrar ali, na mesa da
cozinha. Ficou óbvio para mim que ele queria aquilo de verdade, que nossas
conversas foram mesmo uma fantasia de tudo o que ele queria tornar real um dia.
Matias
se importava de me ver descabelada. Matias detestava pelos. Ver o Flávio
passando a mão nas minhas pernas e sentindo os pelos não depilados e ainda me
chamando de “linda” enquanto se preocupava em me dar prazer me fez perceber que
talvez Matias, por melhor que fosse na cama, não era tudo o que eu lembrava
dele.
E eu
gozei. Mais de uma vez. Na mesa, no sofá, na cama, no chuveiro. Flávio não dormiu
comigo, sabia que aquele espaço era meu e que ele não tinha o direito de
invadir. Sua “invasão” ficou restrita ao que eu permiti, ao que eu quis, ao que
eu promovi. Foi embora tarde, mas foi. Não ligou no dia seguinte, e eu fiquei
genuinamente feliz com isso. Na noite seguinte, quebrado o tabu da falta do
marido, eu me toquei.
Isso
mesmo, me redescobri. Flávio me lembrou que havia um caminho de satisfação que
não era do conhecimento exclusivo do Matias. Se o Flávio achou, eu podia achar
também. E eu achei. Ali eu entendi que eu ainda me amava e me permitira me
proporcionar prazer. Ali eu me senti mais completa na minha solidão.
Ali,
explorando meu corpo, minha alma e meu coração, eu sabia que estava pronta pra
me sentir viva outra vez.
continua...
continua...