sábado, 22 de abril de 2017

Aquilo que era pra ser

                Em plena era da informação, levei 2 semanas pra fazer esse post. Culpem minha infância na base da enciclopédia.

                Bom, tudo tem seu tempo, sua hora, devo dizer o mesmo pra esse post 2 semanas atrasado no semestre que eu desaprendi a dormir. Escrevo esse texto ao som de Numb – Linkin Park, a mesma trilha que usei ao longo dos 10 dias em que mergulhei no obscuro universo de Leandra e produzi Histórias de Minha Morte, sem dúvida a obra mais complexa e profunda que já escrevi nesses mais de 30 anos de literatura.

                Leandra me invadiu com a força de uma tormenta – exatamente como foi sua fictícia e sofrida vida. Leandra, em sua morte, me fez revisitar meus próprios fantasmas e monstros e me ensinou a força avassaladora do perdão. Leandra me desafiou a melhorar como pessoa e como escritora porque a história dela não podia ser contada de qualquer maneira.

                Aqui, nesse espaço, em celebração ao lançamento de Histórias de Minha Morte, vou contar essa trajetória que começou, oficialmente, no dia 11 de março de 2016, mas cujas sementes haviam sido plantadas muito antes.


Das origens

                A minha literatura é galgada na dor. Não poderia ser diferente para uma pessoa que começou a sofrer bullying no jardim de infância. Antes de eu entender a literatura como um ofício, ela era pra mim uma forma de sobreviver. Não apenas no aspecto de exorcizar meus demônios, mas para eu ter um lugar seguro para viver.

                Quando eu tinha um livro ou um caderno na mão, em me sentia um pouco menos sozinha, um pouco menos vulnerável porque a literatura me protegia. Ela não impedia que eu fosse ferida, mas tornava a dor um pouco menos aguda.

                A questão é que não apenas eu dependia da literatura pra sobreviver, mas também eu percebia o “contar histórias” como algo fácil, prazeroso e do qual eu parecia me virar muito bem.

                Os temas sociais acabaram penetrando na minha literatura com essa mesma naturalidade. Falar de dor se tornou um “falar de todas as dores”. Embora na adolescência eu tenha me voltado muito ao romantismo dos amores perdidos e platônicos, eu já tinha um olho bem aberto para uma realidade que não era a minha.

                Foi assim que o racismo entrou na minha vida, na vida de uma menina branca: percebendo a exclusão ao meu redor. A melhor amiga de infância não foi uma escolha de nenhuma das duas: éramos excluídas e nos unimos pra nos fortalecermos.

                Pela minha vivência com exclusão e pela minha revolta com a maneira como a sociedade trata as pessoas negras, enegrecer minha personagem principal aconteceu com a naturalidade que todo protagonismo negro deveria ser em um país com maioria negra.


A inspiração

                Antes de passar pela minha cabeça escrever Histórias de Minha Morte, eu vinha trabalhando em um projeto de nome “Desde sempre, para sempre”, cuja narrativa trazia, em sua primeira fase, um personagem inspirado no poeta Gonçalves Dias – não é novidade para ninguém que acompanha meu trabalho que Gonçalves Dias é meu autor favorito tipo amor insano mesmo – e para isso li algumas biografias dele.

Quadro na parede do meu quarto

                Numa dessas, soube que ele foi dado como morto uns anos antes de bater as botas de fato porque o navio onde ele foi transportado à Portugal, severamente doente, ficou preso no porto em quarentena; o que acontecia quando algum passageiro morria a bordo. A notícia da quarentena chegou ao Brasil, mas os passageiros ficavam incomunicáveis, o que tornou impossível que o poeta desse qualquer sinal de vida aos amigos por aqui.

                Considerando a condição delicada de saúde em que ele se encontrava, a conclusão de que o morto era ele foi imediata e o país entrou em luto. Foram-se meses para ser desfeita a confusão e Gonçalves Dias achou graça; dizia ao melhor amigo que intencionava escrever um livro onde relataria suas experiências pós-morte (só que não). O fato é que não se sabe se ele apenas brincou com a situação ou se pretendia mesmo escrever, porém, sua morte real veio não muito depois e a tal brincadeira nunca se concretizou.

                Achei o episódio fascinante, mas não pensei mais nisso até que meu mundo desabou. Mas DESABOU. “Desde sempre, para sempre” foi abandonado (será retomado, oportunamente) e eu me foquei em sobreviver à tormenta que se abateu sobre a minha vida. No release oficial do meu lançamento, minha assessora de imprensa se referiu ao episódio que culminou na escrita do livro como “forte crise existencial”. Achei fofo, mas não foi isso. Foi imensamente pior.

Depois do inferno

                Independentemente do que aconteceu naquele período, eu sobrevivi. E foi exatamente quando me senti viva outra vez que comecei a escrever o livro. 11 de março de 2016. Foi o dia que abri aquele documento do word, porque a história esteve em mim a vida toda.


10 dias

                Antes de mais nada, ISSO NÃO É NORMAL. Escrever um livro em 10 dias pode ser um senhor tiro no pé e, de forma geral, é exatamente isso. Toda história que merece ser contada, merece ser bem trabalhada e eu, pessoalmente, sou muito contra jogar pro mundo uma obra escrita em menos tempo que uma pessoa leva pra ler.

                Mas... aconteceu. Bom, sendo completamente transparente, o texto escrito em 10 dias foi o texto aprovado pela comissão, mas não é exatamente o mesmo texto que foi publicado. Depois de me inscrever no projeto (já conto tudo isso) eu revisei mais de 10 vezes o livro – e não me refiro à revisão gramatical, falo de conteúdo mesmo. Pra se ter uma ideia, o texto original tinha, no word, 110 página, o final tinha 160. Então todo esse processo fundamental de revisão e arredondamento ele teve também.

                O causo é que, como eu disse antes, o livro me veio depois de sobreviver ao inferno, e eu entrei de fato na pele da Leandra, e eu vivi intensamente cada uma das dores dela. Ou seja, eu me enfiei de volta no inferno (por isso meu melhor amigo se recusou a ler o livro) pra encontrar minha redenção com ela (por isso eu to tentando convencer ele a ler). Por uma questão de sobrevivência (de novo) eu não podia protelar a redação do livro.

                Na época as aulas tinham recém começado, eu era estagiária de um escritório de advocacia e estava no que seria meu último semestre de direito (não, eu não me formei, eu fugi mesmo, hoje estudo jornalismo), e eu já sabia que seria o último. Exatamente por isso que minha professora de contratos me botou pra correr da aula por duas semanas, pra eu poder ir pra casa mais cedo e continuar escrevendo o livro. Não é por menos que ela é nominalmente citada nele.

                Depois de toda a experiência com quase 10 anos de remo com o meu primeiro livro, Depois de Tudo, transformado praticamente em peso de porta pela editora que me aprovou, resolvi seguir o conselho da grande escritora Leticia Wierzschowski, para quem pedi socorro, e submeter meu livro a um edital público de fomento à cultura – o qual, na minha cidade, é chamado de Financiarte. Comentei com algumas pessoas a intenção de submeter meu novo livro ao edital e recebi logo em seguida a notícia que as inscrições estavam abertas.

                Lembro do meu desespero quando olhei o edital e o prazo era de um mês para entregar os projetos. Eu tinha umas 5 páginas do livro a essa altura. Pedi ajuda a algumas pessoas pra saber como entrar no edital e recebi algumas sugestões de nomes de produtores culturais. Um deles é conhecido por ser especializado em literatura e fiz contato com ele. A minha ideia era começarmos a trabalhar no projeto e eu ter esse mês todo pra terminar o livro.

                Daí ele me pediu o livro pra mandar pra avaliação.

                 Com o perdão do palavreado, eu tava era FO-DI-DA.

                Pedi uns dias pra “terminar a revisão” – ahan, revisão, “sertinho”. – e foi aí que bateu o desespero. Bom, essa aula de contratos não foi a única que eu faltei nesse período e eu lembro que um dos dias críticos para terminar o livro foi naquela quarta-feira em que o Jornal Nacional fez toda uma dramatização de uma ligação grampeada entre Dilma e Lula. Depois do programa, começou uma loucura generalizada com panelaço, bombas e buzinas e eu com os nervos à flor da pele. Meu coração palpitava, meus pais não estavam em casa, então liguei pra minha irmã em desespero, com crise de choro e meu cunhado, que me atendeu, passou uns 15 minutos tentando me acalmar. Naquela noite não rolou nenhuma linha, eu fiquei nervosa demais pra escrever.

                A solução foi escrever no estágio mesmo. Eu evitava fazer isso, afinal era meu ambiente de trabalho, mas era necessário. Tem uma passagem perto do fim do livro que é particularmente emocionante e não estava planejada, simplesmente aconteceu, e eu chorei. E estava no estágio. E eu não conseguia parar de chorar. E passei vergonha. Muita vergonha.

                Terminei o livro numa segunda-feira. Daí eu chorei de novo e todo aquele fiasco descrito no parágrafo acima. Mandei pro produtor cultural e fiquei esperando. Na terça, durante a famosa aula de contratos, eu recebi o retorno: o avaliador aprovou. Hora de começar a correria.

                 
O projeto

                Contratei Claudio Troian, o produtor cultural da minha cidade que é responsável pelos projetos da maior parte dos livros publicados em Caxias do Sul.

                Já de imediato meu primeiro desafio era pagar pelo serviço do projeto – o valor do trabalho efetivo para publicação sai da verba do projeto quando aprovado. Na época, estagiária endividada, estava com uma vakinha (com k mesmo, é o nome do site) aberta porque meu computador estava indo muito mal e eu não tinha dinheiro pra trocar. Como a maior parte do meu trabalho vou disponibilizando de graça na internet, vários amigos sugeriram que eu abrisse a vakinha pro povo me ajudar no aperto.

                Enfim, pedi autorização pros doadores pra usar, no risco, o dinheiro pra pagar o produtor. Todos concordaram e eu corri atrás do que faltava, conseguindo emprestado aqui e ali. Primeiro desafio vencido. Segundo, se considerar que eu não tive outra escolha que não finalizar o livro em tempo recorde.

                A correria até foi menor do que eu esperava e, em uma semana, a minha parte estava finalizada. A loucura mesmo foi na semana do encerramento do prazo, porque nos CD’s onde estava o projeto gravado o word distorceu e as tabelas de orçamento ficaram danificadas. IMAGINA O NERVOSISMO! Porque erro no orçamento é eliminação imediata!

                Por volta de um mês depois, soube pelo produtor que meu projeto passou pela triagem. Ok, primeira etapa vencida. Depois disso viriam as análises orçamentárias, que é menos tenso porque eles podem pedir mudanças, não é eliminação imediata. E depois, claro, a comissão de 5 membros com notório saber na arte específica (no meu caso, literatura) que avaliariam a obra.

Minha sugestão de capa

                Até ali meu grande medo era não passar por causa da violência explícita. Não é todo mundo que tem estômago pra ler um livro que contém estupro – e aí me foi indicado Ana Terra, de Érico Veríssimo, da saga O Tempo e o Vento, um dos maiores clássicos da nossa literatura que já foi adaptado para a TV e o cinema mais de uma vez. Ana Terra sofre um estupro coletivo de um exército inteiro, e essa cena também é explícita. Respirei aliviada, se Érico o fez há tantas décadas, porque eu não poderia?

               
O resultado

                Nessa parte vem o caos. 2016 foi, até o finalzinho dele, um ano bem bosta. Em julho me afundei em dívida pra trocar o HD do note – aquele que tava morrendo e eu não tinha como trocar – e adoeci. Passei por uma microcirurgia, peguei uma gripe violenta, sinusite, rinite, bronquite, outra gripe violenta ainda em tratamento do resto tudo e gastei tudo o que eu tinha juntado em outra vakinha na farmácia.

                3 tratamentos com antibióticos em 2 meses, troca de curso, perda do estágio por causa da troca do curso, desemprego, desespero e uma conjuntivite nos dois olhos como cereja do bolo. É, foi caótico. A cobertura foi uma porta na cara completamente inesperada sobre meu primeiro livro, Depois de Tudo, que é outra história, mas meu emocional chegou nesse ponto virado em retalho.

                E no meio desse caos, no dia 16 de agosto (terça-feira), fui à secretaria da cultura saber do resultado. Aprovado. Mais do que isso, aprovado por unanimidade. Eu quase chorei, mas tive que segurar porque eu não tinha fôlego pra respirar e chorar ao mesmo tempo por causa da bronquite e quase precisei ser socorrida porque me faltou mesmo ar. Enfim, eu venci.

                Mas não, nada na vida vem de graça, certo? Tínhamos até a semana seguinte para ajustar um pedido da comissão sobre o projeto e outra semana para divisão da verba entre os classificados, para aí sim sair o resultado de quem teria seu projeto executado e quem morreu na praia. Ter passado pela comissão não era garantia nenhuma, embora ser uma das pouquíssimas unanimidades tenha aumentado minhas chances de ser contemplada.

                E o resultado não saía. Nos primeiros meses, a moça do setor de fomento só dizia que estava em avaliação porque alguns derrotados haviam entrado com recurso. Depois ela já não tinha mais informações porque não estava mais na mão dela. Lá pelas tantas, um colunista do jornal publicou que havia o risco da anulação do edital e eu entrei em pânico.

                Só que eu não ia ficar parada vendo meu sonho sendo arrancado de mim. Ah, mas não ia mesmo. Descobri tudo o que era possível: estudei a lei municipal, qual a função e prazos da procuradoria, quem era o procurador, consultei advogados para uma possível denúncia ao ministério público, juntei outros prejudicados e compus uma carta à secretária com dados da economia da cultura e o rombo que a anulação causaria na economia da cidade.

                O caos era ainda maior porque a secretária estava licenciada concorrendo à Câmara e o candidato do prefeito, vitorioso no primeiro turno, via sua popularidade desabar diante do candidato zebra que passou pro segundo turno com ele. A gestão acreditava que venceria no primeiro turno, então todo o poder público estava voltado às eleições. E nós, artistas, em banho maria.

                A carta escrita por mim e aprovada pelo grupo de artistas que juntei nunca foi entregue, tinha gente com muito medo de entregar e ser pior e eu vi que nosso grupo tinha se transformado meramente em uma terapia (o que foi ótimo, inclusive), então resolvi agir sozinha; estávamos a  pouco mais de uma semana da eleição do segundo turno, o candidato governista estava perdendo espaço, o zebra crescendo e o jogo político parecendo guerrinha de cotonete gigante na lama. Resolvi aproveitar e entrar no jogo.

                Fiz contato com a vereadora reeleita que foi minha candidata e ela me atendeu prontamente e protocolou na Câmara um pedido de informação sobre o Financiarte, afinal, pegaria muito mal o cancelamento do edital. Era uma quinta-feira – disso eu lembro bem – quando fui à Câmara e vi ser aprovado por unanimidade do protocolo da minha vereadora, Denise. Saí de lá cheia de esperança. E não foi em vão, na terça-feira seguinte, enfim, fomos todos convidados pra diplomação dos contemplados.

                E foi assim que, 70 dias depois da aprovação pela comissão, eu sabia que Histórias de Minha Morte viraria realidade.

Diplomação dos contemplados


Os Versos

                Foi um caos em tempo real. Nem tudo eu podia expor porque tinha medo, muito medo, do quanto expor o horror que estavam fazendo com a gente poderia piorar a situação. Mas o meu caos emocional ficou evidente no meu face. Eu fiquei em frangalhos e toda a luta que eu tinha vencido quando escrevi o Histórias quase virou pó.

                No meio disso tudo, meu inbox piscou. Thayssa, meu contato de face há tempos, veio me dizer que trabalha pra uma editora e, junto com uma sócia, estava criando um selo voltado para mulheres. Vinha um convite para publicação.

                Com o Depois de Tudo já em novo contrato e o Histórias aprovado no Financiarte, eu não tinha nada pra oferecer. Quero dizer, nada que eu julgasse oportuno publicar. Thayssa me questionou sobre poesias, já que é o que eu mais publico na minha página. De início fiquei receosa – trauma de infância, aos 12 a secretária de uma editora me disse que eu jamais publicaria poesias – mas acabei topando.

                E foi assim que nasceu o livro que foi mexido até os 45 do segundo tempo, Versos e Outras Insanidades. Explico: se tem uma coisa que me dá urticária são aqueles livrinhos que, de tão finos, se dobram no expositor. No meu trabalho como redatora publicitária, faço folders maiores! Como poesia é um texto que ocupa pouco espaço, minha maior preocupação era ter um livro vergonhosamente fino. Foi por isso que, há poucas semanas do lançamento, eu ainda produzia textos pra compor a obra.

                Irônico mesmo é precisar escrever textos novos para um livro de poesias sendo que escrevo poesias desde os 10 anos, mas fazer o que se a pessoa que vos fala perdeu na burrice duas pastas com mais de mil poesias cada?

                O lado bom é que, embora contassem minha história, eu não colocaria nesse livro poesias escritas sei lá, em 94, por exemplo. Elas contrastariam de forma negativa com a minha poesia madura, social, visceral que produzo hoje.

                A composição do Versos, tal qual ficou, tem muita semelhança com a narrativa do Histórias, e os esforços para lançar as duas obras juntas acabaram sendo bastante positivos.

                Ok, com o espaço que estou dedicando ao Versos aqui não dá pra ver noção de que a publicação desse livro é uma batalha que enfrento desde os 12 anos, certo? Talvez seja porque eu ainda olho pra ele incrédula que de fato aconteceu – e acho válido comentar que estou com quase 35, então não estamos falando de 2 ou 3 anos de tentativas, mas de mais de duas décadas.
               
O lançamento

                8 de abril de 2017.

                Tão logo a data foi escolhida, comecei a planejar atrações pra engrandecer, e foi assim que convidei duas queridas amigas para integrarem o evento. Bruna Nora e Angela Nadin, ilustradora e fotógrafa que fariam seu trabalho com base no livro. Nesse mesmo tempo, outra amiga entraria no projeto para a trilha sonora do evento. A possível participação de sua banda me obrigou a trocar o local do evento e isso foi meio burocrático porque o local estava aprovado no projeto.

Ilustração da Bruna Nora

Fotografia da Angela Nadin com a modelo Bruna Orlandi

                Até aí deu tudo certo; aprovação da comissão para a troca de lugar, agendamento no lugar novo, tudo ok. Até a hora de imprimir os convites.

                A banda deu pra trás. Ok, eu entendi, não tinha cachê e arte é trabalho, afinal. O que me chateou é que eu me senti super desconfortável com o pessoal que iria realizar meu lançamento porque troquei de lugar para dar suporte para a banda, e não rolou.


                Mas a parte mais linda do pré-8 é que foi tudo tranquilo; os Versos chegaram do Rio com mais de uma semana de antecedência e o Histórias foi entregue com mais tempo ainda de folga. Não tive essa mesma tranquilidade com o Depois de Tudo, em sua primeira edição; teve que ser enviado de avião na véspera do lançamento e eu tive que ir à Porto Alegre buscar.

                A semana que antecedeu o lançamento foi a semana dos meus sonhos. Apesar do cansaço que já era evidente, eu passei a semana tendo que conciliar meu trabalho, a faculdade – todas as noites – e a agenda de entrevistas, cada dia em um veículo diferente. Eu não sei descrever o quanto eu amei aquilo tudo. Claro que nem tudo são flores e eu me gripei uma semana antes, da gripe evoluiu pra bronquite e eu morrendo de medo de perder a voz. Não perdi, só precisava me concentrar pra não tossir nas entrevistas, mas a bronquite na semana mais esperada da minha vida é algo que eu só lembrarei lendo esse relato, o que vai ficar é a experiência maravilhosa que eu tive.



                O dia, especificamente, teve mesmo cara de sonho realizado. Estava marcado para as 17h mas às 16h30 começou a formar fila, não deu nem tempo de montar a banca de venda dos livros porque o pessoal foi chegando e a fila chegou à rua. Saí de trás da mesa dos autógrafos pela primeira vez às 20h e foi chegando gente até as 22h.


                Voltei pra casa com o coração aquecido, não há como se descrever a sensação de ver tudo aquilo acontecendo depois de tantas batalhas que precisei vencer para chegar até ali. Eu estive no inferno mais vezes do que achei que fosse possível suportar. E de repente eu conheci o céu.

                Ainda há muito trabalho pela frente. Venci a primeira etapa e não há tempo para dormir no ponto. Por mais que eu já tenha construído um cantinho seguro no coração de tantos leitores, eu ainda sou considerada desconhecida e tenho agora dois livros que são, para as editoras, produtos, e precisam ser vendidos para que Maya Falks não seja apenas uma nota de rodapé da história da literatura.


                A luta continua. Só que agora eu tenho um exército lutando comigo.

CURIOSIDADES

HISTÓRIAS DE MINHA MORTE:

- O nome de Leandra era pra ser Letícia. Cheguei a escrever duas ou três vezes. Mudei porque Letícia é o nome da filhinha de uma ex-colega com quem convivia na época e não queria ela lendo todo esse sofrimento com o nome da bebê dela.

- O irmão, Felipe, ganhou nome quase no fim do livro, e eu não me dei conta que Felipe é o nome do filhinho da outra colega dessa época, ou seja, tóin.

- A mãe de Leandra não tem nome citado, mas na minha cabeça, ela se chama Regina.

- O pai de Leandra não tem nome, e isso foi proposital porque não o considero digno de um.

- A capa foi feita por Adan Marini baseada em um desenho meu. Aprovei a primeira opção.


- Eu tava na praia com 3G quando a capa veio. Precisava mandar uma sinopse pro verso e não tinha internet, então fui com um netbook caindo aos pedaços até o hotel e fingi que era hóspede. Não colou e eu precisei fazer toda uma curva pra me deixarem usar o wifi. A vingança do hotel foi que o netbook travou e não consegui fazer nada. O resultado: cancelei as férias e voltei pra casa.

- A primeira versão do Histórias era humor. Durou um capítulo e eu senti que não daria certo.

- Disse pro meu melhor amigo que escreveria um livrinho pequeno e despretensioso só pra não ficar muito tempo sem publicar. Bom... ele não acreditou, e ele tinha razão.

- A minha primeira ideia era um livro de bolso, quem me impediu de fazer nesse formato foi o editor.

- Eu queria capa dura porque sou canhota e capa dura não danifica na hora de escrever, mas não cabia no orçamento.

- Toda vez que eu leio o prefácio da Jarid Arraes, eu choro.

- Todos os depoimentos usados na divulgação do livro foram reais. Foram 22 depoimentos coletados.

Um dos depoimentos


- A sinopse no verso era outra. O livro estava prestes a ir pra impressão quando o Adan, o capista, me deu um discreto toque que não tava muito atrativo o texto. Concordei com ele e escrevi o novo. Até hoje sou grata por isso.

- De todas as peças, a única que a gente não entrou em sintonia imediata foi a ilustração que vai no verso, porque o Adan desenhou um patinho amarelo que me lembra patinho de banheira, e o da história é de gesso. 



VERSOS E OUTRAS INSANIDADES

- A minha até então poesia favorita não entrou no livro porque a temática não contemplava.

- A última poesia que escrevi para o Versos foi Filha da Miséria, terminei a poesia em prantos.

- A capa passou por um processo longo de concepção – a designer deve me odiar até hoje. A primeira versão sugerida por mim era uma foto de um ensaio que fiz com a Angela Nadin no final de 2016.


- Depois de mil idas e vindas, escolhi uma foto em um banco de imagens gratuitas e mandei pra designer, que fez um bom mexe nela e virou a capa que está no livro. Confesso que aprovei porque a gente tava com a corda no pescoço porque não curti de cara. Não sei precisar se comecei a gostar sozinha ou se os elogios dos outros foi mudando minha percepção, só sei que hoje sou apaixonada por ela.



- Quando eu tava juntando as poesias, minha mãe pediu pra eu buscar nos arquivos do finado Sótão (minha extinta página de ativismo), já que quando eu comecei ela, era uma página literária, virou ativista porque eu andava muito revoltada. Tirei pelo menos uns 10 textos de lá.


- No dia do fechamento do livro, tirei uma poesia pra participar de um concurso que exigia ineditismo. Perdi o concurso e a poesia ficou fora.

- O banner é de papel, menos de uma semana antes do lançamento, meu pai tropeçou no suporte e derrubou o banner. Com a queda, arrancou um pouco de tinta e eu pintei com caneta. Ninguém notou.

Abaixo, entrevista concedida pra TV Câmara!


2 comentários:

  1. Olá, Maya! Li seus textos e fiquei encantada! Lendo mais sobre você no google, vi que vc faz poesias por encomenda para presentearmos! Que incrível! Como posso falar com vc sobre esse assunto? Obrigada, Giovanna - gmenucelli@gmail.com

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